Facebook Twitter RSS
banner

Paisagem na Neblina (1988)


       Duas crianças, uma menina de 11 anos e um menino de cinco, decidem fugir de casa. Deixando a mãe para trás, sem dinheiro ou referência, saem de Atenas em busca do pai, que emigrou para a Alemanha. Os dois não sabem que esse pai na realidade não existe, e que nem mesmo são filhos do mesmo homem. Assim, sua jornada torna-se uma entrada perigosa e dramática no mundo adulto. Filme de Theo Angelopoulos ganhou Prêmio da Crítica na 15ª Mostra de Cinema de SP e o Leão de Prata no Festival de Veneza, além de ser considerado o melhor filme Europeu de 88. 

    Com um cinema reflexivo, com longos planos-sequência mostrando o estado emocional de seus personagens, Angelopoulos mostra nos seus filmes dramas humanos da busca do homem pela sua razão de ser, entrando em conflito com suas ideologias, seus sonhos e desejos que vão se transformando na medida que o seu olhar sobre o mundo vai ficando mais revelador e desconcertante. Póetico, sensível e humano, demasiado humano.

        Atraído pelos mitos fundadores do seu país e da filosofia que lá se originou, Angelopoulos atualiza o mito de Orestes (que volta para vingar a morte do pai, na tragédia de Ésquilo) na figura de um motoqueiro que faz parte de uma trupe de atores e que cruza o caminho dos protagonistas como um símbolo do amor. Os símbolos, aliás, permeiam todo o filme. Como a gigantesca mão, retirada do mar por um helicóptero (acima) e que remete, imediatamente, à procura por um Deus que possa redimir uma realidade tão ameaçadora, na história de uma civilização que perdeu as rédeas e se encontra entregue a um pessimismo atroz. 
       
      Numa escritura cinematográfica rigorosa que abdica da lógica para firmar uma poética de profundas reverberações humanistas, o filme torna-se fascinante na medida em que o não-dito adquire uma força descomunal numa demonstração de que, às vezes, nenhum gesto ou palavra poderá emprestar aos sentimentos uma tradução coerente. 

       É neste sentido que a cena do estupro de Voula, que não é mostrada, torna-se o emblema mais eloquente e chocante desse filme. Exatamente porque o seu horror não poderá jamais ter um correspondente em imagens. Restam o silêncio e a dor, que serão os companheiros da menina para rejeitar o amor de Orestes, em outra cena de tristeza descomunal.
       
       A cada revisão de Paisagem na Neblina, é certo que outros planos sempre nos surpreendam, como é o que é mostrado aqui ao lado. Angelopoulos, com seu domínio ímpar da mise en scéne e um talento notável para contar histórias, realizou um filme onde cada novo plano sobrevive como um enigma, e cada fotograma em branco é capaz de acobertar, de fato, uma árvore. Basta se comprometer a enxergá-la.









Título original: Topio stin omichli

Direção: Theo Angelopoulos
Direção de fotografia: Yorgos Arvanitis
Roteiro: Theo Angelopoulos, Tonino Guerra, Thanassis Valtin
Produção: Theo Angelopoulos, Eric Heumann, Stéphane Sorlat
País: Grécia
Ano de produção: 1988
Duração: 127 min.

Compartilhe Post

  • Facebook
  • Twitter
  • Myspace
  • Google Buzz
  • Reddit
  • Stumnleupon
  • Delicious
  • Digg
  • Technorati
Autor:Admin
Paranaense nascido nos anos 70, Eliazer Raizel � fundador do Templates para Blogger e residente em Londres - Inglaterra. Tamb�m � professor de Teologia pela Universidade JWBible College em Londres, Agente de Viagens e no tempo que sobra durante as muitas atividades � Blogueiro

0 comentários:

Comente aí! Nós agradecemos.

Traduzido por: © Templates para Blogger Gaming