Paisagem na Neblina (1988)
Duas crianças, uma menina de 11 anos e um menino de cinco, decidem fugir de casa. Deixando a mãe para trás, sem dinheiro ou referência, saem de Atenas em busca do pai, que emigrou para a Alemanha. Os dois não sabem que esse pai na realidade não existe, e que nem mesmo são filhos do mesmo homem. Assim, sua jornada torna-se uma entrada perigosa e dramática no mundo adulto. Filme de Theo Angelopoulos ganhou Prêmio da Crítica na 15ª Mostra de Cinema de SP e o Leão de Prata no Festival de Veneza, além de ser considerado o melhor filme Europeu de 88.
Com um cinema reflexivo, com longos planos-sequência mostrando o estado emocional de seus personagens, Angelopoulos mostra nos seus filmes dramas humanos da busca do homem pela sua razão de ser, entrando em conflito com suas ideologias, seus sonhos e desejos que vão se transformando na medida que o seu olhar sobre o mundo vai ficando mais revelador e desconcertante. Póetico, sensível e humano, demasiado humano.
Numa escritura cinematográfica rigorosa que abdica da lógica para firmar uma poética de profundas reverberações humanistas, o filme torna-se fascinante na medida em que o não-dito adquire uma força descomunal numa demonstração de que, às vezes, nenhum gesto ou palavra poderá emprestar aos sentimentos uma tradução coerente.
É neste sentido que a cena do estupro de Voula, que não é mostrada, torna-se o emblema mais eloquente e chocante desse filme. Exatamente porque o seu horror não poderá jamais ter um correspondente em imagens. Restam o silêncio e a dor, que serão os companheiros da menina para rejeitar o amor de Orestes, em outra cena de tristeza descomunal.
A cada revisão de Paisagem na Neblina, é certo que outros planos sempre nos surpreendam, como é o que é mostrado aqui ao lado. Angelopoulos, com seu domínio ímpar da mise en scéne e um talento notável para contar histórias, realizou um filme onde cada novo plano sobrevive como um enigma, e cada fotograma em branco é capaz de acobertar, de fato, uma árvore. Basta se comprometer a enxergá-la.
Direção: Theo Angelopoulos
Direção de fotografia: Yorgos Arvanitis
Roteiro: Theo Angelopoulos, Tonino Guerra, Thanassis Valtin
Produção: Theo Angelopoulos, Eric Heumann, Stéphane Sorlat
País: Grécia
Ano de produção: 1988
Duração: 127 min.
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