Trilogia Qatsi: Koyaanisqatsi, Powaqqatsi,Naqoyqatsi e Baraka
Calma,não estamos xingando você...
Koyaanisqatsi: Life out of balance é um documentário lançado em 1983 dirigido por Godfrey Reggio com música do compositor Philip Glass.
A trilha sonora deste documentário possui grande importância pois o desenrolar tem a velocidade e o tom ditados por ela. Não existem diálogos e também não são feitas narrações durante todo o documentário.
São apresentadas cenas em paisagens naturais e urbanas, muitas delas com a velocidade de exibição alterada. Algumas cenas são passadas mais rapidamente e outras mais lentamente que o normal, criando, com a trilha sonora, uma idéia diferente da passagem do tempo. Vários dos efeitos apresentados se tornaram clichês usados em outros filmes e programas de televisão.
A palavra koyaanisqatsi tem origem na língua Hopi e quer dizer "vida desequilibrada", ou "vida louca". O significado é revelado ao final do documentário antes da apresentação dos créditos. No final do documentário são cantadas três profecias do povo Hopi em sua própria língua, as quais também têm suas traduções apresentadas antes dos créditos.
O filme leva sua audiência a refletir sobre os aspectos da vida moderna que nos fazem viver sem harmonia com a natureza, bem como a pressão exercida pelas inovações tecnológicas que tornam o cotidiano cada vez mais rápido.
Como curiosidade, podemos observar que próximo dos 37 minutos do início do filme, aparece a implosão do Edifício Mendes Caldeira, que deu lugar à Estação Sé, do Metrô de São Paulo.
Powaqqatsi: Life in transformation é um documentário lançado em 1988 dirigido por Godfrey Reggio com música do compositor Philip Glass.
É o segundo filme da trilogia Qatsi.
Powaqqatsi vem da língua Hopi e quer dizer "vida em transformação".
Como os demais filmes da trilogia, não são apresentadas narrativas ou diálogos durante todo documentário. Apenas no final é revelado o significado do nome powaqqatsi.
Os filmes da trilogia estruturam-se num tripé: o encadeamento conceitual, a carga imagética e o rítmo musical: Godfrey Reggio, Ron Fricke e Phillip Glass, respectivamente, além de inter-relações. Ron Fricke não participou em Powaqqatsi.
O filme chama atenção pelas imagens fortes e contundentes, um caldeidoscópio de cores, comportamentos, culturas, festas, sofrimento. O tema destacado é o trabalho humano levado aos seus limites, uma loucura onde desestabilizamos o mundo para sobrevivermos em condições ultrajantes.
Pontilhado de paradoxos, a narrativa de Powaqqatsi descreve, ao som da música de Glass, o duelo entre o homem e a natureza, onde a adaptação da natureza aos nossos desejos produz o desequilíbrio que nos ameaça. A tecnologia se amalgama a Terra,destroi toda diversidade pelo padrão das repetições, como se o planeta fosse lentamente transformado numa fábrica insana. Ao lutar pela sobfrevivência, os homens são colocados no seu limite. As relações desiguais se configuram em exploração desenfreada.
A sequência inicial nos interessa de perto. Mostra Serra Pelada no auge do garimpo. Milhares de homens sujos de lama se embrenham terra adentro...olhares ambíguos...vazios de vida...cheios de esperança...corpos moldados pelo peso que carregam, e quem assiste as imagens se verga com eles. A música de Phillip Glass ressalta esse efeito num diapasão repetitivo, intenso, mas nunca monótono.
Recomendo que esse filme sirva de material para oficinas em comunidades onde a problemática ambiental tenha maior visibilidade.
Pode também ser usado para discussão em movimentos sociais sobre a dignidade do trabalho, a exploração e a busca de superar relações de desigualdade.
Naqoyqatsi: Life as war é um documentário lançado em 2002 dirigido por Godfrey Reggio com música do compositor Philip Glass e com trechos executados pelo violoncelista Yo-Yo Ma.
É o último filme da trilogia Qatsi, que é composta juntamente com os documentários Koyaanisqatsi (1983) e Powaqqatsi (1988). O primeiro aborda principalmente o hemisfério norte, o segundo o sul e países asiáticos, ficando com este terceiro a grandiosidade de abordar o planeta como um todo, conectado, globalizado, mergulhado na tecnologia que encurta distâncias e acelera processos de destruição devido ao seu mau uso.
Naqoyqatsi é uma expressão da língua Hopi que significa "a vida como uma guerra" ou "a guerra como um meio de vida". Também há uma sugestão de interpretação como "violência civilizada".
Ao contrário dos demais documentários da trilogia, Naqoyqatsi não foi produzido através de filmagens. Foram utilizados filmes e imagens de arquivo manipulados digitalmente e intercalados com cenas produzidas por computação gráfica, com efeitos de pós-produção como fotografia térmica. Esta maneira de produzir o filme não foi à toa; o diretor escolheu produzir o filme a partir de imagens e vídeos extraídos de banco de imagens para desta forma justificar a constante apropriação que o atual mundo tecnológico nos permite e nos impulsiona a fazer (samplers, remixagens, copy paste...). Além do mais, desta forma, o diretor acaba demonstrando também que a presença da tecnologia se faz essencial e predominante na produção do filme, ou seja, sem a tecnologia, nem o filme e nem nosso atual quadro de vida existiriam.
Este documentário leva a audiência a refletir sobre a nossa relação com a natureza, a influência da tecnologia em nossas vidas e as novas maneiras de se relacionar dentro de um atual quadro frenético mergulhado na conectividade tecnológica. Há uma ênfase especial sobre a competitividade, os conflitos do mundo e a violência.
Baraka (1992) é um documentário experimental americano,dirigido por Ron Fricke, cinematografista de Koyaanisqatsi, o primeiro da trilogia Qatsi, de Godfrey Reggio.
Baraka, uma antiga palavra Sufi que pode ser traduzida simplesmente por bênção (blessing), por respirar (breath), por essência da vida, é um poema visual, um filme sobre o mundo e o que há de espiritual e doentio nele, os contrastes das diferentes culturas e as semelhanças que elas têm na sua angústia e esperança na busca por Deus e na sua relação com a natureza.
Frequentemente comparado a Koyaanisqatsi, o assunto principal de Baraka é, de fato, similar, incluindo filmagens de várias paisagens, igrejas, ruínas, cerimônias religiosas e cidades, misturando com vida, numa busca para que cada quadro consiga capturar a grande pulsação da humanidade nas atividades diárias.
O documentário foi filmado em 70 mm colorido em 23 países: Argentina, Brasil, Camboja, China, Equador, Egito, França, Hong Kong, Índia, Indonésia, Irã, Israel, Itália, Japão, Quênia, Kuweit, Nepal, Polônia, Arábia Saudita, Tanzânia, Tailândia, Turquia e EUA. Ele não contem diálogos ou cenas coesas, mas apenas imagens e som ambiente, conversas ou cantos, que podem ser considerados o narrador latente de uma intenção universal espiritual.
Segundo os críticos, Baraka é um filme que, de modo não-verbal e não-linear, discute o sagrado e o humano; a ordem natural e a entropia; a santidade e o materialismo. Portanto, é um filme dialético, totalmente dependente da percepção e interpretação do espectador. Não importa quem você seja ou onde viva: você também está em Baraka.
A espiritualidade é latente no filme inteiro. De acordo com a Antropologia, o aumento da capacidade cerebral fez com que o homem formulasse questões mais complexas, dentre elas de onde viemos e para onde vamos. A busca pela resposta levou diversas culturas diferentes a admitirem a existência de um ser superior, um Deus. Em Baraka, é como se de repente todas as culturas resolvessem mostrar qual o seu Deus, sendo que o ocidente é responsável por algumas das imagens mais tristes e chocantes do filme.
Na sua negação de um Deus primitivo que é objeto de cultos e sacrifícios, o ocidente cultua a mecanização, a ciência, colocando em segundo plano a humanidade, no sentido da compaixão. Esse é o significado da cena dos pintinhos dentro da máquina, o mesmo significado das cenas de guerra.
Baraka é um filme sobre a vida, um registro da humanidade que propõe não uma aceitação do que somos, mas a reflexão de que estarmos acostumados com alguma coisa não quer dizer que ela seja correta, assim como algo de outra cultura nos chocar não significa que seja algo ruim ou bárbaro. É para quem está de saco cheio de filmes com muito efeito especial e pouco conteúdo, e da previsibilidade dos roteiros básicos e rasos do tipo mocinha conhece mocinho, dificuldades os separam, mocinhos sofrem, mas ficam juntos no final.
Estou assistindo Koyaanisqatsi agora mesmo!
ResponderExcluirJá conhecia o Baraka e quero agora ver os outros da trilogia..
Òtimo post, parabéns!