Não concordo sempre com o Rubens,mas depois que assisti...

É gente Peter Jackson também erra...
Depois de O Senhor dos Anéis e mesmo King Kong, eu estava ainda na ilusão de que Peter Jackson estava no auge da criatividade e que iria acertar qualquer coisa. Achei meio estranho quando falavam que seu novo filme era sobre uma menina que era assassinada e tentava resolver o caso do pós-tumulo.
Além de não ser novidade (em 2008, teve um suspense da Disney com esse tema, só que masculino), parecia-me mórbido demais. Mas calei a boca, dando minha confiança ao mestre neozelandês, que acabou de ser premiado pela Rainha da Inglaterra. Se ela faz isso, o que custa a gente, né?
Novamente, fui me assustando quando li notícias de que o filme tinha sido rejeitado pelo público em suas primeiras apresentações, que suspenderam sua exibição para reformular inteiramente a campanha de marketing e que tentaram vender o resultado para meninas adolescentes e românticas que gostam de Crepúsculo!
Pior ainda, foi quando o filme só teve de importante a indicação para o Globo de Ouro e o SAG de ator coadjuvante para Stanley Tucci, que faz o assassino. Na verdade, é um tipo composto, quase exagerado. Eu prefiro o ator como marido de Meryl Streep, em Julie e Julia!
Ou seja, Jackson está em maus lençóis. Assistindo ao filme, infelizmente, ele não vai conseguir salvá-lo com mudanças de publicidade. O roteiro é cheio de falhas, o visual chega perto do brega e o filme simplesmente não funciona. Tem um ranço de fantasia, de terror, que vai impedi-lo de chegar ao grande público.
A referência mais próxima que lembrei é o filme de Robin Williams, Amor Além da Vida (What Dreams May Come, 98), em que um homem ia atrás da mulher, que se suicidou do outro lado da vida, mas onde todas as referências eram pinturas ou ilustrações famosas da história do cinema e que ganhou Oscar de efeitos especiais.
Só que aqui, a referência é banal, de gosto discutível, caindo em campos de trigo, rosa desabrochando, nuvens ondulantes, florestas com neblina, por do sol, ou seja, o trivial brega. Como diz o NY Times, como se fosse uma capa de Long Playing, dos anos 70, o que ainda fica mais claro porque a trilha musical é de Eno (que por sinal não irá concorrer ao Oscar porque ele não a inscreveu na Academia).
Na verdade, o ponto chave é que a história é desagradável e ninguém quer passar duas horas torcendo por uma menina que foi brutalmente morta, sofrendo com ela e com os pais (outra falha gritante é o da personagem da mãe Rachel Weisz, que praticamente some do filme, sem deixar vestígios ou explicações. E o pai é feito pelo inominável Mark Whalberg, que parece garotão (Ryan Gosling largou o papel semanas antes de começarem as filmagens depois de Huck Jackman ter recusado).
E a mensagem romântica da história, da menina que morreu sem antes ter realizado seu desejo de beijar o menino por quem era interessada, é realizada de forma enrolada e inconvincente.
A história é baseada no best-seller de 2002, de Alice Sebold, que ele adaptou com as habituais Fran Walsh (sua mulher) e Philippa Boyens, mudando bastante coisa. Para começar o caso do livro, a menina não é apenas assassinada, mas também estuprada – o que não fica claro – e desmembrada (argh).
A história é narrada após a morte da menina Susie Salmon, feita pela irlandesa Saiorse Roman, revelada em Desejo e Reparação e que não tem culpa pelo resultado. Ela está numa espécie de limbo onde ficariam as vítimas até terem sossego de que sua morte foi solucionada ou o bandido preso.
Talvez o problema do filme seja o de que não se resolve entre thriller, romance, fantasia romântica, drama social (à la M, o vampiro de Dusseldorf), disfarçando seu conteúdo trágico com filigranas e alegorias. Pelo jeito, inscreve-se nos inesperados fracassos do ano de 2009.
Rubens Ewald Filho